quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Formando uma opinião lúcida


           É incontestável que o consenso várias vezes já se mostrou equivocado, dessa forma, é preciso ficar atento às deturpações das revelações divinas, o mundo foi capaz de desvirtuar a mensagem pura do Cristo e fazer barbaridades, o espiritismo não é invulnerável a tais desvios (falando espiritismo aqui na sua  acepção mais pura de organização racional do conhecimento espiritual, que não pertence a grupo, sociedade ou indivíduo em particular, à luz da metodologia científico-filosófica aplicada por Kardec). Cabe-nos o papel de pousar atenção sobre essas questões de legitimidade e conformidade entre as revelações mediúnicas, sabendo aplicar os devidos métodos de análise, que a priori podem parecer rigorosos em demasia, mas necessários.

ACERCA DOS CONHECIMENTOS ORIENTAIS

            É de grande importância que apliquemos preceitos orientais, e relacionemos esses conhecimentos com o espiritismo, no entanto é preciso ter noção de que tais informações podem ser mal compreendidas e interpretadas na sua transição para nossa cultura, em razão da grande disparidade de mentalidades, de modo que terminemos por não poder absorver na essência tais preceitos, mergulhando em um misticismo perigoso; é preciso estudar sim, o conhecimento hindu, budista, os ensinos preciosos do taoísmo, a baghdavah gita, os vedas, os ensinos de Confúcio, as filosofias samurais, os preceitos islâmicos de Maomé, etc, mas com todas as ressalvas da tradição e culturas próprias da região; então, esse apelo ao oriente não deve se assemelhar uma fuga do nosso panorama, a nossa realidade é essa, o nosso campo de ação é essa João Pessoa paraibana num Brasil Sul-americano que guarda grandes demonstrações de fraternidade e solidariedade (diferente de muitos países reclusos a um individualismo tolo), a despeito de seus problemas sociais e políticos;

A RESPEITO DA MISSÃO DO BRASIL

              Certamente não há um povo, país ou etnia superior ao outro, todavia há ambientes mais propícios que outros para a transmissão da mensagem evangélica e universal do amor, e o trabalho da espiritualidade é incessante, encontrando meios de ação onde tais requisitos se oportunizam; onde implantar a semente evangélica num mundo de Europa cientificista-materialista e individualista, uma América do norte imperialista, um Oriente médio bélico e fanático e uma Ásia exclusivista, com o perdão do estereótipo; a escolha temporária da terra brasilis não nos devia impressionar, a inspiração divina já nos mostrou sua inteligência na escolha de um reduto monoteísta judaico para o seu nascedouro, o trabalho só aparece quando o trabalhador está pronto.
             No entanto,  jamais nos consideremos superiores a outras nações, lembrando que o Império romano já foi palco propício para mensagem crística, resguardando expectativas de uma disseminação massiva de seus princípios evangélicos, à época do Imperador Augusto a sociedade romana foi insuflada por uma atmosfera serena e próspera, às vésperas da chegada do Governador Jesus; e, no entanto, tal recinto de esperanças foi o mesmo a deturpar as intenções mais nobres da Boa Nova, fazendo atrocidades mancharem seu nome e significado, e levarem a humanidade ao completo desprezo dos ideais de religiosidade na sua essência. Então abracemos nossos propósitos coletivos com lucidez, sabendo que estamos sendo guiados por uma inteligência superior muito bem organizada e programada, embora nosso sucesso ou insucesso nesses desígnios dependa inteiramente de nossas ações e obras perante as responsabilidades assumidas.

SOBRE A SONDAGEM  DO CONTEÚDO ESPIRITUALISTA

Mas, então, afinal que critério aplicar? qual a informação confiável? qual revelação é a mais adequada?
Tenha certeza de que essa mesma pergunta já perturbou e perturba ainda alguns dos mais sábios homens da humanidade, inclusive Kardec.

primeiramente: por que Kardec?
no século XIX, antes da codificação, não existia um compêndio de informações espiritualistas à maneira do trabalho de Kardec.

Roustaing foi contemporâneo de Kardec e pretendia praticamente os mesmo objetivos que Kardec: uma análise evangélica à luz da espiritualidade; entretanto, há uma distinção importante entre ambos, que é crucial para a escolha de um estudo mais adequado: Enquanto Kardec prezava pela máxima despersonalização das informações colhidas do plano espiritual, aplicando o método científico-filosófico na codificação, contando com o apoio de um grupo de vários médiuns, no qual se excluía do rol dos sensitivos, fazendo o mero papel do jornalista-investigativo espiritual; Já Roustaing rejeitou tais métodos adotando uma postura exclusivista, na qual ele próprio recebia mediunicamente as informações e, ao mesmo tempo, as compilava e interpretava, tornando sua obra um tanto particular e duvidosa.

Por isso é que escolhemos Kardec diante de tantas outras fontes de conhecimento espiritualista ao nosso acesso, seu triunfo maior foi promover a junção da análise racional metodológica com a perquirição filosófico-investigativa à luz da mensagem evangélica constituindo o pilar da religiosidade imprescindível.

Desde então, as portas abertas para comunicação nos trouxeram imensas informações da vida pós vida, vários médiuns surgiram trazendo um grande arcabouço de idéias a serem analisadas e questionadas. E então surge a preocupação: em que médium e espírito confiar? como saber isso?

Certamente devemos buscar a árvore boa do esclarecimento, e isso se dá pela análise dos seus frutos, seus resultados.
O mesmo conclui Kardec quando é perguntado em quem coadunar-se diante de uma divergência bilateral de idéias, "certamente em quem se propor a um raciocínio mais racional e lógico", "o que aplicar o método científico", diriam, entretanto Kardec é simplista ao afirmar "está com a razão aquele que mais acumular dentro de si o mais puro sentimento de amor".

Está aí a razão pela qual Divaldo enfatiza a importância do aspecto moral em detrimento das revelações e informações pomposas e grandiosas a que certos espíritos se propõem a apregoar.

Chico certamente foi cobrado na conduta e disciplina para que as suas mensagens não fossem ofuscadas por atitudes não condizentes com seu teor, e nesse ponto, foi exemplo dos mais notáveis de dedicação e renúncia na existência, valorizando ainda mais suas obras, assegurando, dessa forma, a veracidade de seus escritos, pois tal criatura não poderia estar acompanhada senão por espíritos da mais alta envergadura, por simples aplicação da Lei de sintonia. É por isso que as obras de Emmanuel, André Luiz, Humberto de Campos, etc, são testemunhos tão verdadeiros e incontestáveis; suas obras (muitas escritas entre a década de 30 a de 70)  preconizam informações minuciosas de descobertas que foram confirmadas apenas nesse milênio pela comum ciência, verdadeiros instrutores do além.

Somos profundamente agradecidos pelos seus esforços. 

Para encerrar, uma frase do filme Ágora (ou Alexandria), de Hypatia: “Se você não questiona o que você acredita, então você não acredita. Eu tenho que questionar”

Um comentário:

  1. Ótima e serena abordagem, principalmente sobre o papel que o codificador da doutrina espírita Allan Kardec teve realizar este trabalho de sistematização dos conhecimentos espirituais. Apenas complementando a questão levantada sobre o cuidado que deve existir no estudo das filosofias que fogem à nossa realidade momentânea (ou campo de atuação) enquanto ocidentais cristãos (na grande maioria)... acredito que a Verdade, como realidade Universal (e interpretada segundo a perspectiva/visão limitada de nossa moral defeituosa), também é interpretada segundo os padrões psicológicos que são construídos de acordo com a cultura e grau de evolução dos indivíduos que compõe determinada sociedade. Dessa maneira, é lógico que os conhecimentos “codificados” por uma sociedade do Oriente, que possui outra realidade social, psicológica, moral e cultural... naturalmente irão sofrer deturpações quando “transcritas” para a linguagem Ocidental, senão houver uma certa cautela. Porém, acho que o ser espiritual deve estar constantemente re-criando os seus padrões psicológicos e filosóficos, pondo em cheque antigas e equivocadas formas de pensar ao mesmo tempo que interioriza novas maneiras de assimilar a Verdade absoluta. Para tal fim, faz-se necessário um estado de abertura e disposição para a análise de outras interpretações dessa mesma Verdade, com o intuito de levantamento comparativo e seletivo daquelas formas-pensamento que mais se adequão ao estado evolutivo de determinado indivíduo. Penso que este é o caminho mais correto de se alcançar, por meio do racionício lógico, o progresso racional que consequentemente nos auxilia e impulsiona na percepção de nossa moral.. auxiliando-nos por fim, no processo de transmutação de nossos sentimentos, pensamentos e atos. Evolução alicerçada na moral e intelecto, enfim.

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